Moralismo de quinta

Na última edição do programa Roda Vida, da TV Cultura de São Paulo, o professor Leandro Karnal, um dos mais renomados e queridos mestres de História do País, foi instado a falar sobre o movimento “escola sem partido” – uma onda conservadora pela qual se propõe o fim de discussões político-partidárias dentro das salas de aula como forma de evitar uma suposta doutrinação marxista dos estudantes brasileiros.

Karnal saiu-se com essa:

“Escola sem partido é uma asneira sem tamanho, é uma bobagem conservadora, é coisa de gente que não é formada na área. É uma crença fantasiosa de uma direita delirante e absurdamente estúpida”.

Em suma, o professor de História resumiu, em poucas e precisas palavras, mais essa cretinice da direita brasileira que, como não poderia deixar de ser, encontrou no Distrito Federal uma porta-voz altamente credenciada para levar adiante essa insanidade.

O nome dela é Sandra Faraj, deputada distrital pelo Solidariedade, também pastora da Comunidade Cristã Ministério da Fé. Por onde vai, se diz “cristã e militante de causas sociais”.

Pois bem, a deputada Sandra acaba de enviar um requerimento de informações à Secretaria de Educação e à direção do Centro Educacional Nº 6, da Ceilândia, justamente no P Sul, onde sempre vivi, para questionar a competência de um professor que ousou discutir a realidade com seus alunos e alunas.

E qual foi a ousadia desse professor? Tratar, francamente, de assuntos que estão em pauta, diariamente, na vida do Brasil e do mundo: homofobia, pansexualismo, integração entre gêneros, relações poliamorosas e transsexualidade.

Vejam bem, o professor não pediu que os alunos se entregassem a orgias ou simulassem relações homoafetivas entre si. Pediu, apenas, uma pesquisa. Isso mesmo: uma simples pesquisa para que cada qual pudesse refletir e participar de uma discussão escolar sobre as questões de gênero.

Sandra Faraj, no entanto, faz parte, na Câmara Legislativa do DF, do segundo time da chamada “bancada da Bíblia”, plantada no Congresso Nacional, fonte permanente de vergonha para os verdadeiros cristãos brasileiros, estes que repudiam o ódio e a intolerância contra as diferenças.

Para justificar essa reação absurda e medieval, a deputada lança mão de uma falácia, claro. Assim, cita a decisão da CLDF de retirar do plano de educação termos gênero e sexualidade, o que, na avaliação dela, teria gerado uma proibição automática aos temas.

Sandra Faraj, como muitos dos fundamentalistas religiosos de direita, costumam se esconder atrás desses filigranas normativos para evitar expor suas verdadeiras intenções.

Ela não está nem um pouco preocupada com a lei. O que Sandra Faraj quer é impor sua moral enviesada, torta e intolerante ao sistema público de ensino. Quer evitar que os estudantes do DF tenham capacidade crítica para discutir, a partir de reflexões próprias, sobre a realidade em que vivem.

Quer calar a consciência de professores que lutam para que gente como Sandra Faraj não passe adiante suas lições de ódio e preconceito

Chico Vigilante

Deputado distrital do PT